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Entendendo o Transtorno da Personalidade Borderline

Atualizado: 7 de jan. de 2020

Texto da nossa parceira psicóloga Daniela Assunção.



Antes de explicar o que é um transtorno da personalidade, precisamos primeiramente entender que “personalidade” significa um conjunto de características psicológicas que vão determinar como nós agimos, falamos, sentimos e nos relacionamos com as outras pessoas. A formação da nossa personalidade é contínua e gradual, sofre influência da nossa cultura, da religião, da educação que recebemos, dos valores que nos são passados, etc. E é essa personalidade que vai responder também diante das adversidades da vida, sendo assim podemos pensar em um transtorno de personalidade quando o jeito de a pessoa reagir frente às situações da vida ou de interação com as outras constantemente traz sofrimento, ou seja, se o “jeito de ser” da pessoa frequentemente traz sofrimento para ela ou para as pessoas que convivem com ela, então podemos pensar na hipóteses de um transtorno da personalidade.


A causa, assim como a maioria dos transtornos psiquiátricos, depende de uma combinação de fatores, então podemos ter experiências traumáticas que a pessoa passou ao longo da vida, sejam abusos psicológicos e/ou sexuais, negligência, bullying, separação dos pais, órfãos, pessoas que são extremamente vulneráveis, o estresse ambiental. Todos esses fatores associados também à genética irão contribuir para que uma pessoa desenvolva (ou não) o transtorno da personalidade borderline (TPB).


O TPB atinge de 1 a 2% da população, e é mais frequente em mulheres. Apesar de em alguns casos os sintomas se manifestarem no início da adolescência, a personalidade ainda é muito moldável nessa fase, por isso o diagnóstico deve ser feito somente após 18 anos. O TPB também é chamado de limítrofe por estar entre a neurose e a psicose. Ele não chega a se configurar em um transtorno psicótico, mas ele tem traços bem parecidos. Também pode ser confundido com o Transtorno de Humor Bipolar porque este também é marcado por oscilação de humor, porém no TPB a oscilação de humor é mais constante, passando de situações de extrema alegria para a depressão no mesmo dia, por exemplo.


O que é importante entender sobre o TPB é que enquanto alguns transtornos psiquiátricos tem começo, evolução e remissão dos sintomas, o transtorno de personalidade é a forma como a pessoa funciona e, por isso, alguns especialistas podem dizer que não tem cura, porém há tratamento e controle de sintomas para melhora da qualidade de vida e das relações.


Quais são os sintomas e os critérios para a pessoa ter o transtorno de personalidade borderline? De acordo com a 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais - DSM-V, há um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:


1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.);

2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;

3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo;

4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.);

5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante;

6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias);

7. Sentimentos crônicos de vazio;

8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes);

9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos.


O tratamento do TPB é uma combinação de medicação e psicoterapia. A medicação geralmente utilizada é um estabilizador de humor que irá impedir as oscilações muito bruscas de humor, ou de impulsividade, juntamente com antidepressivos que irá atenuar a sensação de vazio crônico e também algumas vezes necessário utilizar antipsicóticos. A psicoterapia será o principal fator de mudança. Seu objetivo é ajudar a pessoa a entender o seu transtorno, o modo como ela funciona, o que traz sofrimento e consequentemente fazer com que a pessoa faça mudanças para novas formas de pensar, sentir e agir. A terapia com mais evidências de efetividade para o tratamento do TPB é a Terapia Comportamental Dialética (do inglês, DBT - Dialectical Behavior Therapy). A DBT portanto, promove aspectos de mudança e aceitação, visando postura dialética: por um lado aceita a dor emocional (em vez de tentar mudá-la) e, por outro, procura modificar os antecedentes do estresse e a maneira pela qual a pessoa lida com as próprias emoções.


No geral, o tratamento do paciente borderline pode gerar muitas angústias e expectativas para ele e seus familiares. Quando procuram um atendimento especializado, em geral, já estão cansados e desacreditados que possa existir uma possível melhora, isto acontece porque vários profissionais foram consultados, sendo que alguns deles erraram no diagnóstico e no tratamento. Além disso, há também aqueles profissionais que, de forma responsável, os encaminharam por não possuírem um atendimento especializado. Os dois cenários reforçam a crença de que não há solução para estes casos, postergando assim, o sofrimento do paciente e do familiar.

Os fatores que contribuem para a melhora significativa do paciente são: uma equipe especializada que trabalhe afinada entre si; familiares que incentivem e participem do processo, seja através da terapia familiar ou da presença quando solicitada; e principalmente, o engajamento do paciente no tratamento.



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